domingo, 24 de julho de 2016

Uma espécie de prece para o cão andaluz - Lucas Jammal

Alguma voz me perturba quando eu estou sozinho,
Fico tão cansado nos dias que não faço nada,
trato alguém distante, como se fosse meu vizinho...
Eu me molho com o sol da madrugada...

A noite é bem clara para um coração escuro,
e o coração persegue quando se encontra luz,
O desejo é algo obscuro,
é uma espécie de prece para o cão andaluz...

Eu me chamo ninguém e moro em lugar nenhum,
Meus seis sentidos explodiram, restando apenas um.
Você grita, mas eu não posso escutar,
eu não posso ver, não adianta desenhar,
Quero que você me bata, pois não sinto você me tocar!
Do que adianta mil beijos, se eu não tenho paladar?
Quero tanto teu perfume, mas eu não posso cheirar...
Do que adianta escrever se eu não posso pensar?

Não restou nada, nem mesmo a criatividade,
não restou prosa, não restou poesia,
não restou mentira, nem restou verdade,
não restou vida, morte, sonho ou fantasia.

Escrevo pra tentar fazer algo restar,
claro que é em vão,
pois é uma forma de rezar
e meu poema é ateu,
tão ateu, que no final,
deixa a rima de lado...

Nenhum comentário:

Postar um comentário