quarta-feira, 8 de março de 2017

Um poema gótico de um poeta gótico (XV - XX) - Lucas Jammal

XV - Concerto nº2

A depressão
É a chave da solidão
Que é a chave da depressão.

Vou me internar,
Dentro de um redemoinho,
Até ficar sem ar.

A voz do meu amor
Não é mais bonita
Que o concerto nº2,
Claro, de Rachmaninoff.

A solidão a telefonar,
Eu a encher a cara de vinho,
Nunca mais quero ficar
Totalmente sozinho.

XVI - Os tímidos beijam bem.

Pois onde há pouca prosa,
Há muita poesia.
Onde há muita conversa,
Há muita ação,
Mas também pode haver muita ilusão...

Às vezes pode haver pouca diversão,
Pois onde há muita paixão,
Pode haver muito apego
E onde há muita esperança,
Pode haver muito não.

E onde há desilusão,
Pode haver muita lembrança.

E onde há silêncio,
Há também um coração.

XVII - melhor ou pior?

Um engenheiro quando calcula
O coeficiente de segurança
Ele pensa no melhor
Ou ele pensa no pior?

E um músico quando toca
Um acorde diminuto,
Ele pensa no melhor
Ou ele pensa no pior?

Um menino gótico que adora sodomia,
Entra na internet pra se masturbar,
Ele pensa no melhor
Ou ele pensa no pior?

E um poeta morto,
Quando quer sofrer de amor,
Ele pensa no melhor
Ou ele pensa no pior?

XVIII - Sensível

Sensível em essência...
Teu afastar
É a minha experiência
De ficar sem ar...

A nossa violência
De sufocar,
É reflexo da demência
Que é viver pra trabalhar...

Sem mulher eu não sou ninguém
E vira algo destrutível, a sensibilidade...
Eu não posso viver sem alguém,
Pra compartilhar o toque e a verdade...

Sensível em aparência,
Ninguém tá nem aí pro meu olhar,
Pra que tanta negligência?
Pra todas as mulheres vou mandar

Mil cartas de amores pra cada,
Mesmo que nenhuma consiga se encantar,
Pois o amor pra elas parece uma piada,
Amor não faz ninguém se apaixonar.

XIX - falsa existência.

Me parte o coração,
Ver essa escuridão
Chamada de razão.

A minha emoção
É fraca em comoção...
De pouco serve a paixão...

Tudo é dinheiro.
Tudo é mercado.
Viver é chegar em primeiro.
Viver é pecado.

Tudo é ter,
Tudo é velocidade,
De nada adianta ser,
Se não se é de verdade.

XX - O poder do amor

Preciso encontrar o poder do amor,
Nas pedras e máquinas desse mundo,
E beijar esse nada, com muito ardor,
Me desenterrar no meio do profundo!

Procurar e procurar e procurar e procurar,
Alguém que ainda tenha um coração,
Alguém que não existe: que saiba amar,
Ainda que bem pouco e sem paixão.

Alguém que não existe: que me dê carinho,
Que me dê atenção quando eu estiver sozinho
E que não me abandone, com medo da intensidade.

Eu sei que é pedir muito por alguém que saiba transar,
Eu sei que é pedir muito por alguém que saiba respirar.
Mas continuo buscando por quem vive de verdade.

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