domingo, 1 de setembro de 2019

Admirável ideologia velha

Admirável Ideologia Velha - Lucas Jammal 

I - Gados da oposição

Era uma vez um gado, 
Assassino de gados da oposição,
Gados que acreditavam 
Que gênios que eles gostavam 
Concordariam com eles. 

Por livros, infectados,
Os gados que quando liam,
Liam um lado só, 
Com medo do ceticismo... 
Gados, úteis gados,
Convictos em teus abismos. 

Eis que meus gados são amor, 
Mas os problemas, esses são,
Os gados do ódio e da dor, 
Somente os gados da oposição. 

II - infinita efervescência 

Furo no buraco de minhoca, 
Mata o deus do tempo,
Tudo que existe vira essência.
Agora o literal é metafórico 
E o metafórico, literal. 
Todos somos um
Nessa infinita efervescência.

Mate o deus do sonho,
Pra sonhar acordado,
Mate o deus Apólo,
E apague o passado. 
Mate o Dionísio,
Apague o futuro,
Mate Eros,
Pra derrubar o muro.

III - O muro 

Ao redor do muro
Havia a defesa, proteção, abrigo,
Preso no presente, meu amigo
E eu, no passado e no futuro. 

A parede separatista dividia
O parasita que acolhia em seu ninho, 
E ao abrigar, matava quem queria
E triste, comia tudo sozinho. 

O muro comia a luz da princesa da noite
Que se escondia do relógio e da razão 
Princesa linda, se defendia com teu açoite, 
Torturava pra preencher o medo da solidão.

E em seu muro, mais um soldado foi colocado,
O soldado sombrio que pagava o pato... 
E eu ouvia o barulho do assassinato, 
No muro qual eu estava encimado. 

IV - O soldado sombrio 

O soldado sombrio,
Viciado em amor,
Viciado pelo frio
E em sentir dor.

O soldado desistiu,
De viver uma vida incolor... 
A dama-da-noite floriu,
Em um diamante furta-cor. 

E os novos olhos de neon,
Brilhavam ao som de seu acordeom
Cor de rosa, feito seu coração.

Cantava, mas ninguém o entendia,
Mas cantava até à Virgem Maria...
Mas no fim morria, a purpurina, no chão. 

V - O poeta absurdo

O poeta absurdo
Escrevia pro escritor cego,
Que lia partituras do músico surdo,
De músicas cheirosas, para o florista sem olfato.

E contava piada, pro humorista chato,
O menino empreendedor, 
Na floresta qual o molusco comia o pato
E o poeta nunca sentia dor. 

Tinha alguém mais malvado que o poeta? 
Tinha alguém mais tapado que o profeta? 
E mais inteligente que o demente? 

E nada era mais normal que as coisas absurdas... 
E ninguém mais crucificado do que Judas...
Ou mais incompetente que o presidente... 

VI - Investimento 

Investimento, investimento,
Fazendo do momento 
A mais profunda obsessão,
Investindo o sentimento,
Ao olhar com fixação,
A arte pelo vento... 

A flor vai voando,
A mais cara flor,
A flor cheia de cor... 
E amor, aumentando...

Investimento mais ousado,
Investimento do coração,
Investimento idealizado,
Ao investir-se na idealização. 

Sonhar virou tão extremo, 
Não é preciso mais viver...
Investimento tão supremo,
Automático, sem querer...

Investindo no frio,
Pra obter calor,
Investindo no vazio,
Pra preencher-se do que for...

Investindo tudo,
Pra obter o amado nada,
Investindo mudo,
Na canção mais errada. 

Não há investimento mais absurdo 
que investir no amor, 
Visto que todo poeta é surdo 
e extremo oposto ao investidor...

VII - Cobra 

Você investiu o teu corpo no meu,
A cobra dominou o teu ser,
Teus princípios lhe atacam,
Em uma tempestade de amor.

Você clama por uma rima fácil,
Mas teu peito está cheio de angústia,
Envenenada pelo investimento,
Deveria apenas curtir o instante...

Prodigiosa cabeça travessa,
Atravessada por um leão,
Espantoso, perigoso e encantador, 
Que por dentro, devora teu corpo. 

Em pleno esgoto, ela solta um suspiro... 
Eis que a princesa vira um espantalho... 
Eu sou teu vampiro, 
Você é meu alho... 

VIII - O palavrão 

Naquele tempo, o socialismo era um palavrão,
Ou então, o palavrão era fascismo... 
Tempo aquele, cheio de opressão,
Deixava saudades até do imperialismo. 

Seria tão óbvio enfiar palavrões nesse poema,
Mas não farei isso, sou um homem educado,
Não há motivo para falar palavrão,
Exceto quando algo é intolerável...

IX - Óbvio 

O que seria da vida, 
Na ausência da simplicidade,
Sendo que apenas algo simples
É capaz de trazer felicidade... 

Dinheiro é papel,
Namoro é uma mentira, 
Poder ou ter não é ser... 

Livra-te desse vazio,
Daquilo que você quer ter,
No fundo, é só algo frio...

Fecha o livro, que a poesia
É uma besteira do passado,
Não existe mais magia
Nesse mundo safado... 

X - Bem vindo 

Ladrões de um lado,
Ditadores do outro
E inúteis no meio.
Bem vindo as eleições,
Vote com sabedoria! 
Mesmo que não existam opções...

Bem vindo, bem vindo, bem vindo!
Se você chegou até aqui,
Só por prazer de refletir,
Então seja muito bem vindo! 

Bem vindo, perdido, bem vindo, 
Trouxa que perde o tempo,
Lendo um fútil pensamento...

Se for a menina que eu amo,
Então é trouxa ao quadrado,
Pois sabe o quanto reclamo,
Sabe o quanto sou tapado
E quanto sou safado,
Como um político, um egoísta,
De um amor tão alucinado
Que parece até autista.

Do nada, começo a rimar,
Do nada, começo a sentir, 
Como você consegue suportar?
Vai namorar, vai sair...

Vai ver alguma série, alguma
Coisa, uma coisa qualquer,
Eu sou vários, você é uma...
Tenho até heterônimo de mulher...

Mas fica, fica, fica,
Se teu motivo for se entediar,
Ou levar spoiler da pica,
Um nude eu vou enviar...

... junto com essa bosta, 
Fica, sente o cheiro,
Você recolhe tudo que gosta 
E eu recolho meu exagero.

XI - Era uma vez 

Era uma vez um hétero, um gótico
E um indivíduo heterozigótico...
Todos no Outback, tomando chá gelado,
No inverno do Brasil, quente e abafado...

Era uma vez um prefeito, um juiz
E também um deputado,
Resolviam, juntos, um quiz,
Sobre os erros do passado.

Era uma vez um fumante, um elefante
E a metamorfose ambulante,
Filosofando sobre o futuro do mundo. 

Era uma vez um músico, um poeta
E também um grande profeta, 
Ridicularizando algo profundo... 

XII - whispers and shouts 

The cherry talked with the clit
About flowers from the night,
On the box, there was a slit,
Which gives the man a great insight! 

I talk with the whole hole everyday,
Till I can find the truth, the answer,
I hope the muff can say my way,
While I feel the delight of the legs of this dancer... 

I want to feel, chew in my mouth,
I want to hear your whispers and shouts,
I want to smell the deepest within...

I want to touch that dark sphere,
And with my tongue, feel melting, with cheer,
Of feeling the best of natural sins...

XIII - This is not a depressive song

The first day I touched my body
I was only ten years old...
The first day I touched my soul
I was only a somebody...

XIV - poesia fascista 

Fascista é o meu amor,
Fascista é o céu,
Fascista a minha dor
E também do Manuel...

Fascista o meu coração, 
E a poesia profunda,
Fascista qualquer religião 
E também a minha bunda.

Oh, a Virgem fascista,
De um Jesus nazista,
Por fascistas, crucificado.

Fascista é a lua
E a realidade nua e crua... 
És tudo que já foi inventado.

XV - Ovnis Russos

Ovnis russos
Invadem a área 51 chinesa.

Estamos em um futuro breve...
Hoje, os EUA são o Brasil daquela época,
E o Brasil é a China
E a China, os EUA... 

XVI - A cor infantil 

Verde, a cor infantil,
De um poeta fodido, 
Muito mimado e imbecil,
Cada segundo, da vida, arrependido. 

Morrendo de desgosto
Que eu atiro em mim,
Eu - um poeta sem rosto,
Sem começo, meio ou fim. 

O tempo passando,
Arrancando,
do Peter Pan, a cabeça... 

Meu mundo desabando... 
E eu aqui esperando
Que a realidade desapareça...

XVII - Engenharia 

Acabei com a minha vida,
Por ter cursado engenharia,
Assassinei o artista
Que vivia em mim!

Aquele que era pra viver no palco,
Hoje não sai de casa,
Em busca de emprego,
Para não sair do escritório...

Vida maldita de quem é covarde! 
Em teclados de computadores terei tendinite,
E não força nas mãos
Como teria em um piano nu...

Tocar, como todo apaixonado toca,
A musa que é a música...
Namorar enquanto trabalha,
Crescer em essência...

Aquele que não consegue fazer outra coisa,
Viveria em mais plena satisfação! 
Seria tão bom se fosse real...
Mas agora, só sonho em sonhar... 

XVIII - Nada posso

Nada posso naquela que não me fortalece.
Aquela qual junto ao amor enfio,
És a mesma cujo o amor eu desconfio,
Dona de tudo aquilo que enlouquece. 

Nada posso quando o medo me domina,
E eu me escondo do ladrão de escrúpulos,
Enquanto vivo um multiverso de mil crepúsculos,
Com a calma que a alma abomina. 

Nada posso na ambição que mais me anima, 
Mesmo a crocância da palavra sendo a rima, 
Os versos não chegam aos pés de encantadores...

Nada posso com o poder do acaso...
Tudo que é profundo, no fundo, é raso...
Mas não é a beleza o que me encanta nas flores... 

XIX - Alumbramento 

Cada movimento me dá esperança,
Esperança tão forte, que resulta em felicidade... 
Romantizada nostalgia, doce lembrança,
Imprescindível momento da infinita liberdade! 

Seios que confortam os rostos tristonhos, 
Que transformam em pátria, o sentimento de amor,
Seios que escondem o sentimento de dor
E que dão calor ao sonhador de mil sonhos. 

De braços abertos para o alumbramento,
Vou notando a chuva caindo em tua boca,
Sentindo o efêmero encanto do momento...

Meu coração é lar, você pode morar... 
Mas não faça dele uma biboca... 
Venha enternecer a epifania que é amar! 

XX - Epifania 

No final da tarde,
Havia uma árvore chamada Epifania,
Havia também um sol covarde,
Que, em um mar gostoso, se escondia...

E a menina, em seu cavalo, furiosa,
Aquela, do verso anterior,
Aquela, rica e gostosa,
Epifania, a Dona Flor...

" Dona flor?! É uma idosa?! "
A criança perguntava, ao se empolgar...
E havia tudo em seu olhar... 
E em tudo, as pétalas de uma rosa... 

XXI - O muro (parte 2) 

Muro de um fantasma,
Cabeça do palhaço,
Avatar de aço,
Mormaço de asma...

Um sonho dividido,
O pobre voluntário,
Parece um milionário,
Encostado no muro esquecido.

Muro verde e duro,
Cabeça do futuro, 
Avatar do muro,
De um mormaço escuro...

Um sonho anoiteceu
Em um pobre avatar,
Parece um Coliseu
Em pleno mar...

XXII - O artista que defendia o Bolsonaro 

Lá vinha o artista,
Que defendia o Bolsonaro,
Desempregado, claro,
Pra ele, o crime é ser petista.

Escrevia, imparcial,
Poemas contra o imposto,
Mas nunca mostrava o rosto,
Pra democracia anal...

Do congresso, sentia aflição, 
Sem político de estimação,
Nunca chamou político de Mito. 

E tocava a guitarra, estressado,
O mestre do capitalismo, ousado,
Desesperado por um inscrito...

XXIII - Espaço tubular 

Estava lá, o espaço tubular,
Recoberto por uma mucosa pregueada... 
Dez centímetros para se aprofundar... 
Meu dever era deixá-la apaixonada. 

Sempre salvo do horizonte, 
O espaço me deixava ativo...
Eu encarava a tua fonte,
Quando eu era jovem e vivo. 

Antigamente eu sentia cheiro,
Era romântico até o banheiro...
Cheiro algum posso sentir... 

... além do esgoto do pensamento
Ou as cinzas de um sentimento,
Pela banguela que faz sorrir... 

XXIV - A punheta e o poeta

Poeta não bate punheta,
Pois não gosta de privacidade...
Sim, poeta gosta de boceta,
Mas nem tanto, na verdade...

Também não gosta muito de amor,
Pois amor é mais falso que masturbação...
Poeta só finge sentir dor, 
Pra parecer que tem coração. 

Poeta é o pedreiro
Que não ganha dinheiro...
Palavras não são cimento... 

Quando a punheta é batida pelo poeta,
Todo mundo goza... e ele vira profeta...
E poesia... é a cachaça do sentimento... 

XXV - desistir do meu país 

Vou fazer um soneto sem rima,
Vou fazer as pazes com o caos,
Vou fazer um deus que ri,
Vou fazer a bandeira branca. 

Vou desistir das flores astrais
Vou desistir do infinito, 
Vou desistir do meu país 
Vou desistir da minha língua... 

Vou insistir no grito,
Vou insistir no novo,
Vou insistir no mundo...

Vou investir no admirável,
Vou investir no povo,
Vou investir em algo profundo... 

XXVI - The way we felt last night

Darkness and sorrow 
Sad deepest blue... 
Where is the tomorrow,
Between me, the love and you? 

But inside the house of love,
There is a magnificent light
of the way we felt last night,
Or the line we are thinking above. 

And everything will get magnificent,
If there is a way, efficient,
Of going there and stay...

But now it’s night again,
And I’m feeling, dear friend,
The things you said today... 

XXVII - Chato

Meu jeito de dizer, Boçal,
Pode até começar bem,
O papo vai, o papo vem,
Engraçado e normal...

Até contar que matei alguém,
O tédio, então, se intensifica,
A ansiedade se multiplica,
Pego um assunto do além... 

Pra mim, é até que natural,
Amarro forte, ao meu lado, 
Um ser tristonho e alucinado
E corto sua parte genital... 

E ela grita, descontente: 
" você é chato pra caralho! "
Eu corto o sal e o alho
E choro, comovente...

Dou uma bicuda no dente
E ela diz que eu sou feliz...
Eu enfio a merda em seu nariz
E a merda escorre até a mente...

É meu jeito de ser, sem sal,
São as flores entorpecentes
Cheiradas por delinquentes...
E eu corto o meu bilau

E grudo na testa fria,
Daquela mulher entediada,
Feminista e assustada,
Que uma vez por ano eu fodia... 

E se o meu papo não fosse tão chato assim, 
Eu ia até Roma, eu espalhava alegria,
Teria emprego e de hobby, escreveria poesia,
E viveria um ciclo sem fim...

Mas em minha sala, estava eu,
O Anti-cristo, no meio do nada,
Fedendo com a mulher pelada...
Uma psicóloga e um ateu.

E tudo isso, em pleno Natal,
E, pouco a pouco, eu respirava, 
E cada piscada, eu esperava,
No céu, um Deus legal... 

XXVIII - Ode ao terror

Hoje, as almas doentes 
Fazem um ode ao terror,
Com pedra, escovo os dentes, 
Com faca, eu faço amor. 

Os vidros que eu engulo,
Usei pra cortar o pulso,
O muro que eu pulo
É somente um muro avulso.

E do outro lado do muro,
Estava o meu futuro...
E a noite, sussurrando:

" A liberdade, meus amores, 
É o maior dos horrores. "
Então eu volto, suspirando...

XXIX - a volta dos que não foram 

A volta dos que não foram,
Dos novos velhos candidatos,
Que a velha política enamoram...
Menores do mundo, seus atos...

Roubar ao ponto de matar milhões,
Roubar, ao ponto de destruir
Um país inteiro ou todas as nações...
Por um botão, o mundo pode explodir...

Um desejo: dinheiro e poder.
Um fetiche: o mundo, foder. 
Um pesadelo: sustentabilidade. 

Hoje vou desistir do que nunca tentei
E defender tudo aquilo que não sei
E mentir até encontrar a verdade. 

XXX - Um pesadelo: sustentabilidade 

Hoje, eu consolei o futuro,
Que com medo, chorava...
Pobre futuro, imaturo...
Futuro que tanto eu amava...

Juntei as namoradas e rezei, 
Com minha mão ao meu lado,
Com o meu amor, eu sonhei
Que o mundo estava acordado...

E eu acordei assustado:
" Amor, eu tive um passado,
Que eu estava preso no pesadelo! " 

Então, minha árvore, começou a me abraçar,
E com ela, a amada, eu comecei a plantar
E formar o meu Campo de Asfódelos.