sábado, 7 de maio de 2022

 Distimia - Lucas Jammal 


Quando começa a distimia,

As vezes faço nada,

As vezes faço poesia,

Sentado na escada. 


Está na hora de descer,

Pela escada do inferno,

A angústia do anoitecer

Dentro de um gótico de terno… 


Trinta anos em um estalo,

Parece até que o tempo não existe,

Subo no palco, pra cantar, mas me calo…

Você está tão triste… 


Você tenta me ajudar, me dá a mão,

Eu arranco com uma dentada,

No meu interior, arranco meu coração

Pra entregar pra um mendigo aleatório na calçada.


Depois eu vou pro banco, aquele banco que me ama,

Todo papel que encontro, começo a rasgar,

Depois não reclama, depois não reclama.

O último nível da depressão é amar. 


Parecia até que eu previa,

Que emprego não mais existia,

Que poesia era uma terceira via,

Entre a tristeza absoluta e a alegria.


Seria o diabo tomando conta do corpo inteiro?

Ou somente a química do desespero?

Perco tempo nessa melancolia cheia de tempero… 

Chego por último, mas eu estava em primeiro.


A distimia é o maior entretenimento, 

Pois todo entretenimento é busca da felicidade.

E eu fico entretido por todo momento… 

Distimia acabaria até com a eternidade. 


Pegue aqui essa arma, já que tudo acabou,

Meu coração explodiu em alguma solidão, 

Meu cérebro deu curto circuito, espatifou, 

Meus olhos vêem nada e só viam ilusão. 


" Devo comer? " e cutuco meu umbigo… 

" Talvez beber ", mas também qual o sentido?

Quero um ménage com uma rica e um mendigo,

Tomar coragem pra beber o meu veneno vencido. 

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